17/04/2011

Amarga Experiência



      Segue mais um relato do referido livro da postagem anterior, Instruções Psicofônicas, do Chico Xavier.
     
      Na noite de 24 de junho de 1954, tivemos a agradável e comovente surpresa da visita de um companheiro que, tempos atrás, fora assistido pelos Instrutores Espirituais, por intermédio de nosso Grupo. 
      Lembramo-nos de que, em seu primeiro contacto conosco, trazia a mente obcecada por visões de ouro. 
      Regressando às nossas tarefas, na noite mencionada, deixou-nos a sua “amarga experiência”, que constitui, em verdade, uma grande lição para nós todos. Através dela, podemos observar como as Idéias inferiores, com o tempo, se cristalizam em nossa alma, Impondo-nos aflitiva fixação mental, decorrente de nossas próprias criações íntimas. 
      O irmão “F” nome pelo qual passaremos a designar o companheiro, cuja mensagem vamos transcrever, foi na Terra grande banqueiro. Certamente não foi um criminoso, na acepção comum do termo, mas, pelo conteúdo espiritual de suas manifestações, parece haver sido um desses homens “nem frios, nem quentes”, do símbolo evangélico, que, trazendo a mente amornada na idéia do ouro, durante a existência na carne, ficou por ela dominado em seus primeiros tempos, além da morte. 



Senhores! 
Perdoai-me o tratamento, entretanto, não me sinto ainda à altura de chamar-vos «amigos» ou «irmãos». 
Sou apenas um mendigo de retorno ao vosso templo de caridade, a fim de agradecer, ou simplesmente um homem desencarnado, em tremenda guerra consigo mesmo, para não se arrojar ao abismo da loucura, porquanto a loucura, quase sempre, resulta de nossa inconformação ante a realidade das situações e das coisas. 
Com aprovação de vossos orientadores, venho trazer-vos o meu reconhecimento e algo de minha amarga experiência, como aviso de um náufrago aos viajantes do mundo. 
Quantas vezes afirmei que o dinheiro era a solução da felicidade!.. 
Quanto tempo despendi, acreditando que a dominação financeira fosse o triunfo real na Terra!... 
No entanto, a morte me assaltou em plena vida, assim como o tiro do caçador surpreende o pássaro desprevenido no mato inculto... 
Como foi o meu desligamento do corpo físico e quantos dias dormi na sombra, por agora, nada sei dizer. 
Sei hoje apenas que acordei no espaço estreito do sepulcro, com o pavor de um homem que se visse repentinamente enjaulado. 
Sufocava-me a treva espessa. 
Horrível dispnéia agitava-me todo. 
Queria o ar puro... 
Respirar... respirar... 
E gritei por socorro. 
Meus brados, contudo, se perdiam sem eco. 
Ao cabo de alguns instantes, notei que duas mãos vigorosas me soergueram e vi-me, depois de estranha sensação, na paz do campo, sorvendo o ar fresco da noite. 
Que lugar era aquele? 
Uma casa sem teto? 
De repente, a cambalear, reconheci-me rodeado de grandes caixas fortes... 
Ao frouxo clarão da Lua, reparei que essas caixas fortes surgiam 
milagrosamente douradas... 
Tateei-as com dificuldade, percebi palavras em alto-relevo e verifiquei que eram túmulos... 
Espavorido, transpus apressado as grades daquela inesperada prisão. 
Vi-me, semilouco, na via pública. 
Devia ser noite alta. 
Na rua, quase ninguém... 
Um bonde retardado apareceu. 
Achava-me doente, inquieto e exausto, mas ainda encontrei forças para clamar: 
— Condutor!... condutor!... 
O homem, porém, não me ouviu. 
Caminhei mais depressa. 
Tomei o veículo em movimento e consegui a situação  do pingente anônimo; todavia, com espanto, observei que o bonde era todo talhado em ouro... 
As pessoas que o lotavam vestiam-se de ouro puro. 
O motorneiro envergava uniforme metálico. 
Intrigado, sentia medo de mim mesmo. 
E, para distrair-me, tentei estabelecer uma conversação com vizinhos. 
Os circunstantes, porém, pareciam surdos. 
Ninguém me ouvia. 
Vencendo embaraços indefiníveis, alcancei minha residência. 
As portas, no entanto, jaziam cerradas. 
Esmurrei, chamei, supliquei... 
Mas tudo era silêncio e quietação. 
E quando fitei o frontispício do prédio, o ouro me cercava por todos os lados. 
Acomodei-me no chão de ouro e tentei conciliar, debalde, o sono, até que, manhãzinha, a porta semi-aberta permitiu-me a entrada franca. 
Tudo, porém, alterara-se em minha ausência. 
Ninguém me reconheceu. 
Fatigado, avancei para meu leito... 
Mas o velho móvel apresentava-se-me agora em ouro maciço. 
Senti sede e procurei a água simples, entretanto, o liquido que jorrava era ouro, ouro puro... 
Faminto, busquei nosso antigo depósito de pão. 
O pão, todavia, transformara-se. 
Era precioso bloco de ouro, de cuja existência, até então, não tinha qualquer conhecimento em nossa casa. 
Meditei... meditei... 
Todos os meus afeiçoados como que conspiravam contra mim... 
Não passava de intruso em minha própria moradia. Dia terrível aquele em que reassumia ou tentava reassumir o meu contato com os seres amados que, naturalmente, me deviam assistência e carinho!
Depois de vastas reflexões julguei-me dementado. 
Assinalei, dentro de mim, a necessidade do amparo religioso. 
Iniciei dolorido exame de consciência. Seria eu católico? 
Em verdade, se eu me houvesse consagrado à religião, não teria outra escola de fé. 
Colaborara no erguimento de instituições pias. 
Conhecia pessoalmente o Senhor Arcebispo. 
Convivera com sacerdotes. 
Freqüentava, de quando em quando, as igrejas, por imperativos da vida social. 
Conhecia as obrigações do culto exterior. 
Ai de mim!... por que não obtinha o repouso necessário? 
Passou o dia e veio a noite. 
Alta madrugada, tornei à via pública e nela perambulei, vacilante, procurando, através dos templos, alguma porta que se me descerrasse, acolhedora. 
As igrejas, no entanto, estavam repletas. 
Movimento enorme. 
Mais tarde, vim a saber que outros desencarnados como eu imploravam 
socorro... 
Vagueei... vagueei... até que atingi um santuário de bairro humilde. 
Amanhecia... 
Vários grupos de crentes chegavam para a missa. 
Gente simples, gente pobre. 
Entrei. 
Conturbado e aflito, senti necessidade da confissão. 
Afinal, eu era um católico que relaxara a própria fé. 
Sem que ninguém me escutasse os apelos, pedi a presença de um padre. 
Avancei para o confessionário e pus-me de joelhos, mas, em poucos momentos, o confessionário convertia-se para mim num guichê de banco. 
Sobressaltado, ergui meus olhos para o altar. 
O altar, porém, transformara-se em cofre forte. 
Intentei consolar-me com a visão do missal, mas o livro do culto, de repente, surgiu metamorfoseado num velho livro de minha propriedade, em que eu lançava, às ocultas, as minhas notas de rendimento real. 
Diligenciei isolar-me. 
Temia a loucura completa. 
Ainda assim, levantei meu olhar para a imagem da Virgem Maria. 
Naturalmente, ela teria pena de mim, contudo, ante a minha atenção, a imagem reduziu-se a uma jóia de alto preço... 
Fez-se toda de ouro, de ouro puro... 
Voltei-me para dentro de mim. 
Busquei orar, orar, orar... sem poder. 
A missa começara e tive a esperança de que o momento reservado à 
Comunhão Eucarística seria aquele da visitação do Santíssimo Sacramento. 
O Santíssimo purificaria o lugar em que eu, pecador, me encontrava... 
Todavia, quando alcei meus olhos para o sacerdote, que empunhava, então, o cálice sagrado, notei que as hóstias eram moedas tilintantes. 
Horrorizado, tentei reconfortar-me com a visão da cruz... 
Procurei-a, acima do altar que se havia erigido em cofre forte, mas a cruz transformou-se também num grande cifrão...
Ó Deus! que restava, então, de mim, senão o usurário vencido!... 
Apavorado, tornei à rua. 
Sentia agora mais sede, muita sede... 
Voltei-me para o corpo da igreja, como um filho expulso do próprio lar; contudo, não mais a vi. 
Apenas, estranha voz no alto gritou aos meus ouvidos, ensurdecedoramente: 
— Amigo, os filhos de Deus encontram nas casas de Deus aquilo que 
procuram... Procuravas o ouro... Ouro encontraste... 
Qual mendigo desamparado, fugi sem destino. Queria agora apenas água, água pura que me dessedentasse. 
Conhecia a cidade. 
Demandei uma caixa dágua que me era familiar no alto do bairro de Santo Antônio. (1) 
A água, ali, corria em jorros. Podia debruçar-me...
Podia beber como se eu fora um animal e, prostrado, não mais de joelhos, mas de rastros, imploraria a graça de Deus. 
Achei a água corrente, a água límpida visitada pela luz do sol e estirei-me no chão... 
Mas, no momento preciso em que meus lábios sequiosos tocaram o líquido puro, apenas o ouro, o ouro apareceu... 
Reconheci haver descido à condição de um alienado mental. 
Lembrei-me, então, de velho amigo... Cícero Pereira... (2) 
Cícero era espírita e, por esse motivo, tornou-se para mim alguém que eu supunha, em minha triste cegueira, haver deixado na retaguarda da loucura. 
Bastou a recordação para que a voz dele se me fizesse ouvida. 
Acudia-me ao chamado. 


(1) Refere-se o comunicante a um dos bairros da cidade de Belo Horizonte. 
— Nota do organizador. 


(2) Reporta-se a Cícero Pereira, batalhador da Causa Espírita, em Minas 
Gerais, cuja palavra figura também neste livro. 
— Nota do organizador. 


Amparou-me. 
Conversou comigo. 
Depois de algumas horas de esclarecimento, que eu não pude aquilatar com segurança, trouxe-me para junto de vós. 
Sobre a mesa que vos serve, depararam-se-me folhas  impressas que me pareceram cédulas valiosas. 
Esforcei-me por fixar o Evangelho que compulsáveis  no estudo, mas, contemplando o Livro Divino, nele identifiquei apenas um livro de cheques... 
Não obstante atordoado, registrei-vos a palavra consoladora. 
Fui socorrido. 
De imediato, quase nada pude reter de vossos apelos e ensinamentos. 
Contudo, depois de alguns dias, o benefício das exortações recebidas renovoume o íntimo e, de amigos espirituais que presentemente me ajudam a recuperação, aceitei a incumbência de lidar com os associados de meu pretérito, velhos conhecidos e amigos que manejam o dinheiro do mundo, para, através deles, algo realizar que me possa refazer a esperança.. 
Desde então, tenho falado em espírito, com mais de mil pessoas, com mais de mil depositantes de ouro e preciosidades, suplicando atenção para a caridade... 
Entretanto, qual aconteceu com as sentinelas da vida espiritual que me buscavam noutro tempo, tenho visto apenas ouvidos de mármore, cabeças de pedra e corações de gelo. 
Somente agora, nesta semana, atingi um grande resultado. 
Aproximei-me, com êxito, de um homem que guardava algumas economias. 
Pude abeirar-me dele e dar-lhe um pensamento: 
— «Oferecer um cobertor a uma viúva pobre.» Ele acatou a sugestão. 
Comprou o cobertor e, em minha companhia, ele mesmo entregou essa esmola de agasalho a quem tinha frio!... 
      Então, pela primeira vez, depois da morte, uma nova alegria brotou de minhalma!... 
      Tenho hoje a ventura de crer que as visões do ouro terrestre ficarão para trás... 
Doravante, espalharei, de coração erguido a Jesus, o ouro do trabalho, o ouro do pão, o ouro da água, o ouro da prece... 
      O Senhor, que esses fios de algodão, dados de boa-vontade, me envolvam também agora!... 
      Sejam eles o primeiro sinal de minha definitiva renovação, a luz da prece de reconhecimento que venho, feliz, partilhar convosco!... 
      Senhores, muito obrigado! 
      Que Deus vos recompense .... 

Depoimento


Amigos, este relato é retirado do livro do Chico: Instruções Psicofônicas, um livro maravilhoso, espero que este depoimento possa ser útil para esclarecimento e reflexões...


A mensagem de J. P., que designamos apenas por suas Iniciais, em virtude da comovente lição que nos traz, foi recebida na noite de 13 de maio de 1954, no encerramento de nossas tarefas. 
Para elucidar certas passagens desta comunicação psicofônica, é forçoso esclarecer que ele nos visitara anteriormente, sendo socorrido pela doutrinação evangélica. 
É curioso notar que uma de nossas irmãs, elemento efetivo de nosso Grupo e esposa de um dos nossos companheiros, meses antes da mensagem que aqui transcrevemos, revelava todos os sintomas  de uma gravidez aparente e dolorosa, tendo sido tratada espontaneamente, em várias reuniões sucessivas, por um de nossos Benfeitores Espirituais que, carinhosamente, a libertou, através de passes magnéticos, das estranhas impressões de que se 
via possuida. 
Com grande surpresa para nós, viemos então a saber que o Espírito J. P. era o candidato ao renascimento que não chegou a positivar-se. 
Cremos sejam necessárias as presentes anotações, não só para que a mensagem seja devidamente aclarada, como também para estudarmos importantes Incidentes que podem ocorrer, entre dois mundos, em nossa vida comum. 
Com a inflexão de quem chorava intimamente,  o visitante assim se expressou, sensibilizando-nos a todos: 



13 de maio de 1954!... 
Há precisamente sessenta e seis anos eram declarados livres todos os escravos no território brasileiro. 
E talvez comemorando o acontecimento, determinam os instrutores desta casa vos fale algo de minha história, de minha escura história, porquanto, em seus últimos lances, ela se encontra de certo modo associada à obra espiritual de vosso Grupo. 
J. P. foi o meu nome em Vassouras, a fidalga Vassouras do Segundo Império. 
Resumirei meu caso, tanto quanto possível, porque,  como é fácil perceberdes, não passo ainda de pobre viajante da sombra, em árduo serviço na própria regeneração. 
Em março de 1888 fui convidado a participar de expressiva reunião da Câmara 
Vassourense por meu velho amigo Doutor Correia e Castro. (1) 
Cogitava-se da adoção de medidas compatíveis com a campanha abolicionista, então na culminância. 
Alguns conselheiros propuseram que todos os fazendeiros do Município instituíssem a liberdade espontânea, a favor do elemento cativo, com a obrigação de os escravos alforriados prosseguirem trabalhando, por mais cinco anos consecutivos, numa tentativa de preservação da economia regional. 
Discussões surgiram acaloradas. 
Diversos agricultores inclinavam-se à ponderação e à benevolência. 
Entretanto, eu era daqueles que pugnavam pela escravatura irrestrita. 
Encolerizado, ergui minha voz.
Admitia que o negro havia nascido para o eito. 
Nada de concessões nem transações. 


         (1) O comunicante refere-se a pessoa de suas relações íntimas, em 1888. 
— Nota do organizador. 


O senhor era senhor com direito absoluto; o escravo era escravo com irremediável dependência. 
Aderi ao movimento contrário à proposta havida, e nós, os da violência e da crueldade, ganhamos a causa da intolerância porque, então, Vassouras prosseguiu esperando as surpresas governamentais, sem qualquer alteração. 
De volta ao lar, porém, vim a saber que a inspiração da providência sugerida partira inicialmente de um homem simples, de um homem escravizado... 
Esse homem era Ricardo, servo de minha casa, a quem presumia dedicar minha melhor afeição. 
Era meu companheiro, meu confidente, meu amigo... Inteligência invulgar, traduzia o francês com facilidade. Comentávamos juntos as notícias da Europa e as intrigas da Corte... Muitas vezes, era ele o escrivão predileto em meus documentários, orientador nos problemas graves e irmão nas horas difíceis... 
Minha amizade, contudo, não passava de egoísmo implacável. 
Admirava-lhe as qualidades inatas e aproveitava-lhe o concurso, como quem se reconhece dono de um animal raro e queria-o como se não passasse de mera propriedade minha. 
Enraivecido, propus-me castigá-lo. 
E, para escarmento das senzalas, na sombra da noite, determinei a imediata prisão de quem havia sido para mim todo um refúgio de respeito e carinho, qual se me fora filho ou pai. 
Ricardo não se irritou ante o desmando a que me entregava. 
Respondeu-me às perguntas com resignação e dignidade. 
Calmo, não se abateu diante de minhas exigências. Explicou-se, imperturbável e sereno, sem trair a humildade que lhe brilhava no espírito. 
Aquela superioridade moral atiçou-me a ira. 
Golpeado em meu orgulho, ordenei que a prisão no tronco fosse transformada em suplício. 
Gritei, desesperado. 
Assemelhava-me a fera a cair sobre a presa. 
Reuni minha gente e as pancadas — triste é recordá-las! — dilaceraram-lhe o dorso nu, sob meus olhos impassíveis. 
O sangue do companheiro jorrou, abundante. 
A vítima, contudo, longe de exasperar-se, entrara em lacrimoso silêncio. 
E, humilhado por minha vez, à face daquela resistência tranqüila, induzi o capataz a massacrar-lhe as mãos e os pés. 
A recomendação foi cumprida. 
Logo após, porque o sangue borbotasse sem peias, meu carrasco desatou-lhe os grilhões... 
Ricardo, na agonia, estava livre... 
Mas aquele homem, que parecia guardar no peito um coração diferente, ainda teve forças para arrastar-se, nas vascas da morte, e, endereçando-me inesquecível olhar, inclinou-se à maneira de um cão agonizante e beijou-me os pés... 
Não acredito estejais em condições de compreender o martírio de um Espírito que abandona a Terra, na posição em que a deixei...
Um pelourinho de brasas que me retivesse por mil anos sucessivos talvez me fizesse sofrer menos, pois desde aquele instante a  existência se me tornou insuportável e odiosa. 
A Lei Áurea não me ocupou o pensamento. 
E quando a morte me requisitou à verdade, não encontrei no imo do meu ser senão austero tribunal, como que instalado dentro de mim mesmo, funcionando em ativo julgamento que me parecia nunca terminar... 
Lutei infinitamente. 
Um homem perdido por séculos, em noite tenebrosa, creio eu padece menos que a alma culpada, assinalando a voz gritante da própria consciência. 
Perdi a noção do tempo, porque o tempo para quem sofre sem esperança se transforma numa eternidade de aflição. 
Sei apenas que, em dado instante, na treva em que me debatia, a voz de 
Ricardo se fez ouvir aos meus pés: 
— Meu filho!... meu filho!... 
Num prodígio de memória, em vago relâmpago que luziu na escuridão de minhalma, recordei cenas que haviam ficado a distância (1), quadros que a carne da 
Terra havia conseguido transitoriamente apagar... 
Com emoção indizível, vi-me de novo nos braços de Ricardo, nele identificando meu próprio pai... meu próprio pai que eu algemara cruelmente ao poste de martírio e a cuja flagelação eu assistira, insensível, até ao fim... 
Não posso entender os sentimentos contraditórios que então me dominaram... 
Envergonhado, em vão tentei fugir de mim mesmo. Em  desabalada carreira, desprendi-me dos braços carinhosos que me enlaçavam e busquei a sombra, qual o morcego que se compraz tão-somente com a noite, a fim de chorar o remorso que meu pai, meu amigo, meu escravo e minha vítima não poderia compreender... 
No entanto, como se a Justiça, naquele momento, houvesse acabado de lavrar contra mim a merecida sentença condenatória, após tantos anos de inquietação, reconheci, assombrado, que meus pés e minhas mãos estavam retorcidos... 
Procurei levantar-me e não consegui. 
A Justiça vencera. 
Achava-me reduzido à condição de um lobo mutilado e urrei de dor... Mas, nessa dor, não encontrei senão aquelas mesmas criaturas que eu havia maltratado, velhos cativos que me haviam conhecido a truculência... E, por muitos deles, fui também submetido a processos pavorosos de dilaceração.(2) 
Passei, porém, a rejubilar-me com isso. 
Guardava, no fundo, a consolação do criminoso que se sente, de alguma sorte, reabilitado com a punição que lhe é imposta. 
      
     (1) Ao contacto do benfeitor espiritual, a entidade sofredora entrou a lembrar-se de existência anterior, em que a vítima lhe fora pai na experiência terrestre. — Nota do organizador. 
      
      (2) Refere-se o comunicante a sofrimentos que experimentou nas regiões inferiores da vida espiritual, sob a vingança de muitas das suas antigas vítimas revoltadas. — Nota do organizador. 


A expiação era serviço que eu devia à minha própria alma. 
Se algum dia pudesse rever Ricardo — refletia —, que eu comparecesse diante dele como alguém que lhe havia experimentado as provações. 
Lutei muito, repito-vos!... 
Sofri terrivelmente, até que, certa noite, fui conduzido por invisíveis mãos ao lar de um companheiro em cuja simpatia recolhi algum descanso... 
Aí, de semana a semana, comecei a ouvir palavras diferentes, ensinamentos diversos, explanações renovadoras. (1) 
Modificaram-se-me os pensamentos. 
Doce bálsamo alcançou-me o espírito dolorido. E, desse santuário de transformação, vim, certa feita, ao vosso Grupo. (2) 
Há quase dois anos, tive o conforto de desabafar-me convosco, de falar-vos de meus padecimentos e de receber-vos o óbolo de fraternidade e oração. 
Mas porque desejasse associar-me mais intimamente ao lar em que me reformava, atirei-me apaixonadamente aos braços dos amigos que me acolhiam, intentando consolidar mais amplamente a nossa afeição. 
Queria renascer, projetando-me em vosso ambiente... Para isso, busquei-vos como o sedento anseia pela fonte... E tudo fiz para exteriorizar-me; entretanto, eu não possuía forças para mentalizar as mãos e os pés!... 
Se eu retomasse a carne, seria um monstro e se concretizasse meu sonho louco teria cometido tremendo abuso... 
Além disso, estaria na posição de um aleijado, simplesmente regressando do inferno que havia gerado para si mesmo. 


(1) Refere-se o comunicante ao culto domésticO do Evangelho, existente no lar do nosso companheiro de quem se havia aproximado. — Nota do organizador. 


(2) A entidade reporta-se à primeira visita que fez ao nosso Grupo, quando foi atendida por nossa casa, através da incorporação mediúnica, em 1952. — Nota do organizador. 
  
Nesse ínterim, contudo, os instrutores de vossa casa me socorreram... 
Auxiliaram-me, sem alarde, noite a noite, e, graças ao Senhor, meu propósito foi frustrado. 
Mas, se é verdade que não pude retratar-me de novo, no campo da densa matéria, para tentar o caminho de reencontro com Ricardo, recebi convosco, ao contato da prece, o reajuste de minhas mãos e de meus pés. 
Orando em vossa companhia e mentalizando a minha renovação em Cristo, minha vida ressurge transformada. 
Agora, esperarei o dia de minha volta ao campo normal da experiência humana, a fim de, em me banhando na corrente da vida física, apagar o passado e limpar minhas culpas, através do trabalho, com a minha justa escravização ao dever, para, então, mais tarde, cogitar da suspirada ascensão. 
Mas, porque recompus minha forma, aqui estou convosco e vos digo: 
— Aleluia!... 
— Viva a liberdade!... 
Louvo a liberdade que me permite agora pensar em receber o bem-aventurado cativeiro da prova, favorecendo-me por fim o galardão da cura!... 
Amigos, eis que nos achamos em 13 de maio de 1954!... 
Para minhalma, depois de 66 anos, raia um novo dia... 31
Para mim, a luz não tarda!... a luz de renascer! E assim me expresso, porque somente na esfera de luta em que vos encontrais como privilegiados tarefeiros, por bondade de Nosso Senhor Jesus-Cristo, é que poderei encontrar o sol da redenção. 
Agradeço-vos a todos, recomendando-me feliz às preces de todos os companheiros, preces que constituem vibrações de amor que ainda me empenho em recolher, como sementes de renovação para o dia de amanhã que espero, em 
Jesus, seja enfim abençoado... 


Que o Senhor nos ampare. 


J. P

11/04/2011

Mensagem Mediúnica De Bezerra de Menezes


Amigos, essa mensagem Divaldo Pereira Franco recebeu de Bezerra de Menezes, uma mensagem muito emocionante, com muita profundidade, muito importante para refletirmos sobre o momento especial que o nosso Planeta vem passando e nós também temos passado, aproveitemos para retirar muito ensinamento dessa mensagem que nos esclarece com muita alegria e muito Amor...

“Solidários, seremos união. 
Separados uns dos outros seremos pontos de vista. 
Juntos alcançaremos a realização de nossos propósitos.”
Bezerra de Menezes


MENSAGEM MEDIÚNICA DE BEZERRA DE MENEZES
Por Divaldo Franco
(13.11.2010 – Los Angeles)

Meus filhos:

Que Jesus nos abençoe

A sociedade terrena vive, na atualidade, um grave momento mediúnico no qual, de forma inconsciente, dá-se o intercâmbio entre as duas esferas da vida. Entidades assinaladas pelo ódio, pelo ressentimento, e tomadas de amargura cobram daqueles algozes de ontem o pesado ônus da aflição que lhes tenham proporcionado. 


Espíritos nobres, voltados ao ideal de elevação humana sincronizam com as potências espirituais na edificação de um mundo melhor. 


As obsessões campeiam de forma pandêmica, confundindo-se com os transtornos psicopatológicos que trazem os processos afligentes e degenerativos.

Sucede que a Terra vivencia, neste período, a grande transição de mundo de provas e de expiações para mundo de regeneração.

Nunca houve tanta conquista da ciência e da tecnologia, e tanta hediondez do sentimento e das emoções. As glórias das conquistas do intelecto esmaecem diante do abismo da crueldade, da dissolução dos costumes, da perda da ética, e da decadência das conquistas da civilização e da cultura...

Não seja, pois, de estranhar que a dor, sob vários aspectos, espraia-se no planeta terrestre não apenas como látego mas, sobretudo, como convite à reflexão, como análise à transitoriedade do corpo, com o propósito de convocar as mentes e os corações para o ser espiritual que todos somos.
Fala-se sobre a tragédia do cotidiano com razão.

As ameaças de natureza sísmica, a cada momento tornam-se realidade tanto de um lado como de outro do planeta. O crime campeia a solta e a floração da juventude entrega-se, com exceções compreensíveis, ao abastardamento do caráter, às licenças morais e à agressividade.

Sucede, meus filhos, que as regiões de sofrimento profundo estão liberando seus hóspedes que ali ficaram, em cárcere privado, por muitos séculos e agora, na grande transição, recebem a oportunidade de voltarem-se para o bem ou de optar pela loucura a que se têm entregado. E esses, que teimosamente permanecem no mal, a benefício próprio e do planeta, irão ao exílio em orbes inferiores onde lapidarão a alma auxiliando os seus irmãos de natureza primitiva, como nos aconteceu no passado.

Por outro lado, os nobres promotores do progresso de todos os tempos passados também se reencarnam nesta hora para acelerar as conquistas, não só da inteligência e da tecnologia de ponta, mas também dos valores morais e espirituais. Ao lado deles, benfeitores de outra dimensão emboscam-se na matéria para se tornarem os grandes líderes e sensibilizarem esses verdugos da sociedade.

Aos médiuns cabe a grande tarefa de ser ponte entre as dores e as consolações. 
Aos dialogadores cabe a honrosa tarefa de ser, cada um deles, psicoterapeutas de desencarnados, contribuindo para a saúde geral. Enquanto os médiuns se entregam ao benefício caridoso com os irmãos em agonia, também têm as suas dores diminuídas, o seu fardo de provas amenizadas, as suas aflições contornadas, porque o amor é o grande mensageiro da misericórdia que dilui todos os impedimentos ao progresso – é o sol da vida, meus filhos, que dissolve a névoa da ignorância e que apaga a noite da impiedade.

Reencarnastes para contribuir em favor da Nova Era.

As vossas existências não aconteceram ao acaso, foram programadas.

Antes de mergulhardes na neblina carnal, lestes o programa que vos dizia respeito e o firmastes, dando o assentimento para as provas e as glórias estelares.

O Espiritismo é Jesus que volta de braços abertos, descrucificado, ressurreto e vivo, cantando a sinfonia gloriosa da solidariedade.

Dai-vos as mãos!

Que as diferenças opinativas sejam limadas e os ideais de concordância sejam praticados. Que, quaisquer pontos de objeção tornem‑se secundários diante das metas a alcançar.

Sabemos das vossas dores, porque também passamos pela Terra e compreendemos que a névoa da matéria empana o discernimento e, muitas vezes, dificulta a lógica necessária para a ação correta. 

Mas ficais atentos: tendes compromissos com Jesus...

Não é a primeira vez que vos comprometestes enganando, enganado-vos. Mas esta é a oportunidade final, optativa para a glória da imortalidade ou para a anestesia da ilusão.
Ser espírita é encontrar o tesouro da sabedoria.

Reconhecemos que na luta cotidiana, na disputa social e econômica, financeira e humana do ganha-pão, esvai-se o entusiasmo, diminui a alegria do serviço, mas se permanecerdes fiéis, orando com as antenas direcionadas ao Pai Todo-Amor, não vos faltarão a inspiração, o apoio, as forças morais para vos defenderdes das agressões do mal que muitas vezes vos alcança.

Tende coragem, meus filhos, unidos, porque somos os trabalhadores da última hora, e o nosso será o salário igual ao do jornaleiro do primeiro momento.

Cantemos a alegria de servir e, ao sairmos daqui, levemos impresso no relicário da alma tudo aquilo que ocorreu em nossa reunião de santas intenções: as dores mais variadas, os rebeldes, os ignorantes, os aflitos, os infelizes, e também a palavra gentil dos amigos que velam por todos nós.

Confiando em nosso Senhor Jesus Cristo, que nos delegou a honra de falar em Seu nome, e em Seu nome ensinar, curar, levantar o ânimo e construir um mundo novo, rogamos a Ele, nosso divino Benfeitor, que a todos nos abençoe e nos dê a Sua paz.
São os votos do servidor humílimo e paternal de sempre,

Bezerra

02/04/2011

Vida em Marte


Rochas de Marte podem ter fósseis de 4 bilhões de anos.

Ainda resta alguma dúvida se há vida somente na Terra?
É um pensamento egoístico crer que somente a Terra, entre inúmeros planetas e galáxias existente no Universo fosso habitável.

















A equipe de pesquisadores americanos identificou rochas antigas da Nili Fossae, uma das fossas existentes na superfície do planeta.

O trabalho dos pesquisadores revelou que essa vala em Marte é equivalente a uma região na Austrália onde algumas das mais antigas evidências de vida na Terra haviam sido enterradas e preservadas em forma mineral.
A equipe, coordenada por um cientista do Instituto para Busca de Inteligência Extraterrestre (Seti, na sigla em inglês), da Califórnia, acredita que os mesmos processos hidrotermais que preservaram as evidências de vida na Terra podem ter ocorrido em Marte na Nili Fossae.
As rochas têm até 4 bilhões de anos, o que significa que elas já existiam nos últimos três quartos da história de Marte.
Quando, em 2008, cientistas descobriram carbonatos nessas rochas de Marte, provocaram grande alvoroço na comunidade científica, já que os carbonatos eram procurados havia tempos como prova definitiva de que o planeta vermelho era habitável e que poderia ter existido vida por lá.
Os carbonatos são produzidos pela decomposição de material orgânico enterrado, se esse material não é transformado em hidrocarbonetos.
O mineral é produzido pelos restos fossilizados de carapaças e ossos, e permite uma maneira de investigar a vida que existia nos primórdios da Terra.



Como a Gravidade afeta a Terra

Pessoal, olha o nosso planeta , nossa casa terrena, como eu adoro astronomia, assim como também gosto muito de arqueologia e estudos de ciências antigas, resolvi colocar essa matéria que saiu na mídia esta semana aqui no Blog, para todos ver como está a gravidade no nosso planeta, como relata os cientistas, não é igualitárias em todos os lugares.

















Uma animação produzida pela equipe que trabalha com o satélite Goce, da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), mostra como a força da gravidade varia na superfície da Terra.
Os dados fornecidos pelo satélite foram exagerados para criar as imagens, que são as mais precisas sobre o assunto até agora.
O modelo da Terra ilustra como a força que sentimos sob nossos pés não é a mesma em cada ponto to planeta, agravidade é mais forte nas áreas que aparecem pintadas de amarelo no globo, e diminui até chegar às áreas azuis.




Os cientistas europeus dizem que os dados coletados pelo satélite estão modificando a compreensão sobre a força de gravidade e como ela está influenciando alguns dos processos naturais mais importantes da Terra.
Eles fornecem, por exemplo, uma visão mais clara de como os oceanos se movem e como eles redistribuem o calor do Sol pelo mundo - uma informação crucial para os estudos climáticos.
Os pesquisadores de terremotos também estão utilizando dados do Goce. Os fortes tremores que atingiram o Japão, no início do mês de março, e o Chile, em 2010, ocorreram porque grandes massas de rocha se moveram de repente sob a terra.
O satélite pode dar uma visão tridimensional do que estava acontecendo na Terra naqueles momentos.
"Mesmo que os terremotos tenham sido resultado de grandes movimentos na Terra, na altitude do satélite os sinais eram muito pequenos. Mesmo assim, é possível vê-los nos dados", disse Johannes Bouman, pesquisador do Centro de Pesquisa Geodésico da Alemanha.
A reprodução do planeta que aparece na animação é o que os pesquisadores chamam de geóide. De acordo com os cientistas, o modelo é uma espécie de versão do que a força de gravidade faz com a Terra, já que o planeta não é uma esfera perfeita e sua massa não é distribuída igualitariamente.
"Estamos obtendo informações completamente novas em áreas como o Himalaia, os Andes e particularmente a Antártida. Todo o continente (da Antártida) precisa muito de informação sobre a gravidade, que nós agora podemos dar."